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Piedra y Camino - Atahualpa Yupanqui

Da colina venho descendo
caminho e pedra
trago enredada na alma, vida,
uma tristeza.

Me acusas de não te querer,
não digas isso
talvez não compreendas nunca, vida,
porque me afasto.

É meu destino
pedra e caminho
de um sonho distante e belo, vida,
sou peregrino.

Por mais que eu busque a sorte
vivo penando
e quando devo ficar, vida,
eu vou andando.

às vezes sou como o rio
chego cantando
e sem que ninguém saiba, vida,
vou embora chorando.

É meu destino
pedra e caminho
de um sonho distante e belo, vida,
sou peregrino.


O menino - Atahualpa Yupanqui



A noite com as espumas do rio,
te estão tecendo um enfeite, menino.

Quero a estrela da noite a mais bela, para brilhar no teu riso,
Menino . . .
Menino, dorme sorrindo menino.
Ah menino!

O menino quis ser peixe e correu à beira do mar
Pôs os pés dentro d'água
Mas não pôde ser peixe.

O menino quis ser nuvem e seus olhos ao céu levou
Voava a nuvem no ar
Mas o menino não voou.

E o menino quis ser homem, e forte compôs sua voz
Mas o mundo era tão seu,
Que o menino, assim menino cresceu

Foram passando os anos e o menino se fez homem
E andou por estes mundos misturando desespero e dor
E um dia, o homem quis ser menino, quis ser nuvem,
Quis ser peixe...

Mas a praia era de angústia, e as nuvens passaram ao longe
E vai o homem pelo mundo, com razão ou sem razão
E leva um menino frustrado, gemendo em seu coração.

Que belo mundo é seu mundo menino, ah, menino
Menino dorme sorrindo menino, ah, menino...

Tempo do homem - Atahualpa Yupanqui

A partícula cósmica que navega em meu sangue
é um mundo infinito de forças siderais.
Veio a mim através de um longo caminho de milênios
quando, talvez, fui areia para os pés de vento.

Logo, fui madeira, raiz desesperada
fundida no silêncio de um deserto sem água.
Logo, fui caracol quem sabe aonde.
E os mares me deram a primeira palavra.

Depois, a forma humana despejou sobre o mundo
a universal bandeira do músculo e da lágrima.
E brotou a blasfêmia sobre a velha terra
e o açafrão, e o trigo. A árvore e as pradarias.

Então vim à América para nascer um homem
e a mim se juntou o pampa, a selva e a montanha.
Sim, um velho da planície galopou até minha origem
outro me disse histórias em sua flauta de cana.

Eu não estudo as coisas nem pretendo entendê-las
as desconheço, é certo, pois antes vivi nelas
converso com as rochas em meio aos montes
e me dão sua mensagem as raízes secretas.

E assim vou pelo mundo, sem idade nem destino
ao lado de um cosmo que caminha comigo.
Amo a luz e o rio e o caminho, e a estrela.
E floresço em guitarras porque fui a madeira.